sábado, 9 de julho de 2011

LIVRO 2ª parte


III
Nobre melodia chamada Voz

Aquele dia nunca esquecerei, por mais que queira, e é lógico que não poderia deixa-lo meu nobre leitor sem o conhecimento desse dia tão marcante, pelo menos para mim, como eu estava dizendo aquele dia eu nunca esquecerei.
Era uma manhã como outra qualquer, daquelas que agente acorda com vontade de ficar na cama até chegar a noite pra poder dormir novamente, chuva fina lá fora, clima fresco e a cama quentinha, mas era evidente que minha mãe não deixaria, e mais pra frente falarei de minha mãe, então fiz questão de levantar logo, assim que ela me chamou pela terceira vez, até como forma de espantar a preguiça.
No café, comi o meu tão natural pão quentinho, havia uma padaria em frente minha casa e isso facilitava muito pra mim, fui pra escola, era evidente que estudar me parecia algo tão útil quanto saber quantos grãos de arroz para fazer uma galinhada para dez pessoas, mas como o estudo para mim não era um prazer e fruto de grande conhecimento e sim uma obrigação árdua e tratei de cumpri-la.
Nunca me senti tão feliz em cumprir uma obrigação dolorosa do que quando adentrei no meu recinto escolar, lá estava ao fundo de minha querida classe chata terceiranista, sentada na cadeira, próximo ao meu ponto de morte diário...
 - Bom dia. Disse ela olhando nos meus olhos e com um sorriso meigo e gentil.
Quão nobre era aquela melodia chamada voz, ainda hoje me pergunto de onde retirei forças para responder.
- Bom dia.
Deixei meus materiais, que não passavam de algumas folhas e tinta para a pena, havia um livro também, não me recordo bem, mas era algo relacionado à matemática, se não estou enganado a obra era Elementos de Euclides, ou algo parecido, meu professor de matemática pior de todos se é que existia algum bom para mim. O fato é que eu não sabia o por que dela estar ali, pois as alas das femininas ficavam do outro lado.
- Acredito que eu esteja no lugar errado. Disse ela com uma leveza no olhar que me deixou sem palavras, consegui dizer sim, não com a boca e sim gesticulando com a cabeça, a verdade é que eu sabia que uma semente havia sido plantada em mim naquele instante.


IV
Um homem de verdade

O homem quando ama, diferentemente das mulheres não consegue disfarçar, a mulher pode amar um homem por muito tempo, observa-lo, deseja-lo, que simplesmente ninguém percebe, porém os homens não tem jeito, é um animal irracional, não consegue... Não consegue disfarçar nenhum segundo se quer.
Estava me sentindo um homem de verdade, estava amando, desejava uma moça, em meus dezessete anos de vida pela primeira vez senti o calor do amor.
Parecia que eu a conhecia a um século de tão grande era o meu sentimento por aquele moça, me via como se já tivesse vivido com ela durante todos esses anos, havíamos tido filhos e éramos felizes, só que na verdade o meu poder psicológico havia ido longe demais, pois não fazia 1 minuto que a tinha visto pela primeira vez.
- Você senta aqui? Perguntou humildemente, voltando-se para mim, e hipnotizado respondi.
- Não, ninguém senta aí, eu fico sozinho aqui no fundo, esta é uma sala de pessoas que visam muito os estudos, sabe?
E mesmo se eu fosse o meu lugar era certo de que não me atreveria a dizer que era meu, estava satisfeito em ver alguém ao meu lado, ainda melhor que era moça e abençoado o fato de era linda, uma verdadeira deusa das mitologias ancestrais, embora eu não acreditava em deuses mitológicos. Neste instante me passava pela cabeça o porque que não deixavam meninos e meninas em uma mesma classe.
- E porque você senta no fundo, então?
Antes eu tivesse ficado quieto, idiota nas palavras me coloquei no primeiro impasse, Bentinho não vivera isso com Capitu, tudo era sorrisos e amores, porque eu já me afoguei na tristeza de falar besteira em 2 minutos de contato, deve ser humano se enroscar.
- Não sou muito de estudo.
Admiti falando baixo quase que pedindo para ela não ouvir, a verdade saiu da minha boca feito uma faca que eu mesmo apunhalei em meu peito, a vi levantando e saindo da minha frente em direção às outras cadeiras e mesas para se aproximar dos alunos mais inteligentes. Mais uma vez foi fruto da minha psicologia mental poderosa.
- Que bom, pensei que não teria alguém assim aqui. Disse ela para a minha surpresa.
E por mais uma vez arrebatou meu coração, como foi fácil gostar com tamanha velocidade e ferocidade, me jogou no chão, fui à lona com nocaute sem chance alguma de me levantar, criei forçar para fazer a pergunta mais lógica no momento, mesmo já sabendo a resposta.
- Você é nova aqui? Era lógica, a resposta a um questionamento tão ridículo, aguardei a resposta e fui respondido com toda delicadeza possível.
- Sim, chegamos ontem, mas estamos na casa de um parentesco, pois nossa mudança chegará pelo amanhecer da próxima semana.
Ao ouvir, “pelo amanhecer da próxima semana”, senti que não deveria mais abrir a boca para não falar tolices, eu não possuía léxico suficiente para utilizar tais termos com propriedade, e falar difícil para mim era sinal de graves erros na flor do Lácio, eu a destruiria sem perdão, é claro que outra evidencia passou a corroer-me, o fato dela ter pronunciado, “estamos”, “nossa”, e minha loucura mental começou a ocupar a minha razão, será que era casada, tinha namorado, ou até mais, filhos, é incrível o quão longe a mente pode nos levar.

sábado, 2 de julho de 2011

LIVRO 1ª parte


I
Antes das histórias dos subúrbios

É difícil acreditar que um raio pode cair duas vezes no mesmo lugar, mas a casos que comprovam que isso é mentira, pode sim cair no mesmo lugar, mas agradeço por ainda não ter caído nenhum em minha cabeça, pois com a sorte que tenho poderia cair outro logo em seguida.
Mais é fácil acreditar que na vida acontecem histórias que por meio são semelhantes, “pois a vida tem dessas coisas assim esquisitas” não é verdade?
Certamente você meu amigo já passou por certos momentos na vida que as coisas pareciam estar no fim, que não havia soluções para as coisas, e de repente notou que já tinha passado, e se por acaso ainda está passando por um momento difícil, saiba que tudo passa um dia.
Na minha vida todas as coisas passaram a ser diferente depois que conheci Bento Santiago, ele me contou a respeito de suas histórias e sua vida de seminarista e bacharel, mas o fato não está aí, mas em Capitu, talvez você meu amigo já tenha ouvido falar, ou lido, a respeito da amável moça de Matacavalos, olhos de cigana oblíquos e dissimulados.
É inevitável a dor que o amor nos traz, é antítese, é completamente incompleto, e se meu amigo tivesse me contado antes a sua história, certamente não teria vivido a minha.
Conversávamos pouco, é verdade, mas foi o bastante para admirar a grande de Santiago, é claro que falar de Escobar era, por vezes, inevitável, porém a tentativa era a máxima de não tocar nesse nome, eu era um dos poucos que ainda o chamava Senhor Bento Santiago, no mais, os outros o chamavam Dom Casmurro, graças ao pequeno poeta das linhas de trem, foi só uma durmidinha, trinta segundos talvez, mas o bastante para ganhar o apelido que o eterniza, era forte por isso evitava, embora já o tivesse absorvido com leveza.
Levado pelas histórias dele, tão semelhantes as minhas, resolvi seguir ao meu mestre e contar a minha história para as pessoas que admiram meu amigo, por favor, leitor não pense que é por inveja, não, é por pura admiração e amor a um amigo a quem devo muito, pena que Bentinho não poderá ler minha obra, pois morrerá a cinco anos, e sei que adoraria ter foliado meus pergaminhos manuscritos, em encher minha pena, para ajudar-me.
Se você, meu caro leitor, ou leitora, quer conhecer minha história, por favor prossiga sua leitura, mas se não deseja, feche o livro e vá para as histórias dos subúrbios.

II
Minha Capitu

Nunca pude imaginar que uma Capitu seria a minha perdição, meu amigo sempre me disse que esse nome era fruto de sua perdição, e eu mesmo sabendo fui submetido a uma nova dissimulada, a minha Capitu ao que eu vejo era univitelina, pois simplesmente não havia diferença entre elas, bendita era a sua beleza, meu amigo eu te digo nunca vi alguém que me arrebatasse com tanta força e me jogasse no chão com um simples olhar.
Talvez você deva estar se perguntando, mas como é realmente essa mulher?
Por favor, a você que estava já com esse pensamento, mil perdões, por vezes me empolguei em falar o quanto ela era bela e me esqueci de falar dela, permita-me descrever a beleza de minha perdição, é claro que até onde o léxico permite, pois muitas das expressões ainda não possuem palavras existentes.
A minha Capitu era capaz de hipnotizar uma serpente, seus olhos era como os da Medusa, uma vez vistos era impossível de se mover a outra direção, meu nobre, tenho certeza que se tivesse a visto algum dia algo parecido àquele verde azulado caramelo escuro, sim era isso, parece confuso, mas alterava as cores conforme ficava mais linda, saberia o encantamento que aqui descrevo, sua boca mais aparentava uma fruto suculenta retida de sua árvore, fruto da árvore proibida, pois o desejo de beija-la tornava o ato um verdadeiro pecado carnal, nobre de minha ganância tê-la para mim.
Por vezes ainda penso que tudo era fruto de minha imaginação, mas digo que não era, pois o dia que escutei aquela boca pronunciar um som, ao que mais parecia uma melodia de sereia, encantadora e irresistível, fiquei totalmente atordoado.